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Economia e Saúde Mental em Pauta​

O impacto da Depressão na Economia Mundial vem à tona no Fórum Econômico em Davos: Tratamento da Depressão não é gasto, é investimento!

27/1/2018

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Na semana do Fórum Mundial Econômico em Davos, o tema da Depressão teve seu destaque no que tange ao impacto que ela causa na sociedade, na economia e na qualidade de vida de mais de 320 milhões de pessoas. Finalmente, líderes mundiais abriram algum espaço na agenda para encarar os inegáveis impactos desta doença mental. Sim, uma doença mental! Não se trata do estresse do cotidiano ou de um problema emocional gerado por alguma situação conflituosa. A depressão tem sido banalizada, mal identificada e mal tratada. O termo depressão virou sinônimo de qualquer mal-estar, contrariedade, tristeza ou desconforto e  profissionais de todas as áreas sentem-se qualificados a indicar algum tratamento ou “técnica inovadora”, sem a menor noção das consequências que isto pode causar. Está na hora de encararmos seriamente a depressão como um transtorno psiquiátrico que merece ser corretamente identificado e tratado por profissionais qualificados e que as políticas públicas de saúde garantam o acesso ao tratamento adequado para quem precisa.
 
Existem vários tipos de depressão e suas causas não são iguais! Na realidade, não é possível se identificar uma única causa para a depressão. Ela ocorre a partir de uma combinatória de vários fatores e ao contrário do que se imagina, não basta ter um ambiente agradável e uma vida balanceada para tratar a depressão. Uma vida com hábitos saudáveis ajuda em muito a minimizar o aparecimento de muitas doenças, mas não impede o adoecimento. Desta forma, a privação de luz, de sono e de determinados nutrientes podem ser fatores disparadores de uma depressão. Outras causas relacionadas aos fatores hormonais (seja no parto, na menopausa, nas alterações da tiroide), ao uso de medicamentos para várias doenças físicas, uso de álcool e cocaína e  ao uso regular de medicações para dormir também podem contribuir para o aparecimento da depressão. Alguns tipos de câncer podem ter os sintomas depressivos como o único sintoma inicial. Além disso, os fatores genéticos, o estresse crônico e a exposição a situações de violência estão envolvidos nas causas da depressão. Portanto, qualquer pessoa que suspeite de depressão, precisa de uma avaliação médica para o seu diagnóstico correto.

Mas, o que o diagnóstico e tratamento de depressão têm a ver com a Economia?
Em Economia da Saúde, usamos o termo custos indiretos àqueles custos que não se relacionam ao  tratamento e aos serviços de saúde. Em geral, os custos indiretos estão relacionados à perda de produtividade no trabalho, mas o suicídio, a morte precoce, perda de anos de educação, o empobrecimento, também entram nesta categoria. Alguns autores se referem a estes custos como “burden econômico”. O termo “burden” foi inicialmente criado para nomear um indicador de saúde que mensurava tanto a mortalidade produzida por uma doença, quando a incapacidade (morbidade) decorrente da mesma. O indicador que avalia o burden é o DALY (Disability Adjustment Life Year). Falarei deste indicador em uma próxima publicação, mas é importante saber que o burden da Depressão recai em várias esferas da saúde do indivíduo, causando maior risco de morte e de incapacidade. A depressão já é uma das principais causas de incapacidade em saúde! As consequências desta incapacidade (morbidade) levam a um grande custo social e econômico.

A depressão produz um “burden econômico” altíssimo para a sociedade: mais de um trilhão de dólares por ano são devidos ao custo por perda de produtividade no trabalho por causa da depressão(Chisholm, 2016). A depressão é uma das principais causas de faltas no trabalho, licenças médicas e baixa produtividade. O ambiente abusivo e insalubre no trabalho favorecem o aparecimento da depressão, embora não sejam os únicos fatores envolvidos. É salutar que o Fórum Econômico em  Davos levante este tema entre os grandes empresários mundiais, porque eles podem ter um papel importante em melhorar o ambiente de trabalho, facilitar o reconhecimento precoce da Depressão, promover a educação e informação no tema e facilitar o acesso ao tratamento adequado.

A mortalidade precoce causada pela depressão representa outro custo relevante para a sociedade.  O custo com suicídio por depressão, nos Estados Unidos, alcançou os 5,4 milhões de dólares no ano de 2000 (Greenbert et al, 2003). O suicídio é uma das principais causas de morte entre pessoas de 15 a 44 anos! Estes custos representam uma importante perda de capital mental para um país, isto é, a perda de pessoas que poderiam estar trabalhando, criando, inovando e transformando o mundo (Razzouk, 2016).

Mas, o burden da Depressão vai muito além destes custos. A depressão no período após o parto afeta 12% dos casos em média e além dos custos relacionados ao tratamento, perda de produtividade e risco de suicídio, a depressão nesta fase tem um impacto ainda maior no desenvolvimento da criança (Centre for Mental Health and London School of Economics, 2014). Este impacto produz um custo três vezes maior do que os custos relacionados com a mãe. Estes custos decorrem do maior risco de morte do bebê, do pior desenvolvimento cognitivo,  dificuldade de aprendizado, e por problemas mentais na vida adulta.

Em adolescentes, a depressão é uma importante causa de absenteísmo na escola, reprovação e abandono escolar (Glide & Pine, 2002). Além disso, a depressão contribui para o uso de drogas e comportamento sexual de risco em adolescentes e adultos jovens. Isto representa não somente um burden para os serviços de saúde e para a saúde pública, mas uma também, uma perda de jovens com boa qualificação educacional!

O tratamento e a prevenção de depressão são muito menos custosos do que todo este burden social e econômico (Razzouk, 2017). Enquanto a agenda mundial se volta para as diretrizes de um desenvolvimento sustentável com cuidados com a mudança climática, com a erradicação da pobreza e criação de cidades sustentáveis, é fundamental cuidar não somente do planeta, mas da saúde mental e o bem-estar dos seres humanos. Só poderemos ter um planeta “sustentável” se a saúde mental for levada a sério! A depressão pode ser tratada a baixo custo para os países, mas com grande retorno para todos nós.
 
Leitura
Centre for Mental Health and London School of Economics, 2014.The costs of perinatal mental health problems. Disponível em http://www.centreformentalhealth.org.uk

Glide & Pine. Consequences and Correlates of Adolescent  Depression. Arch Pediatr Adolesc Med. 2002;156(10):1009-1014 Disponível: https://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/fullarticle/203918

Razzouk D. Capital mental, custos indiretos e saúde mental. In: Razzouk D, Lima M, Quirino C, editores. Saúde mental e trabalho. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo; 2016. p. 61-70. Disponivel https://pt.scribd.com/doc/316579975/Saude-Mental-e-Trabalho


Razzouk, D Burden and Indirect costs of mental disorders. In: Razzouk,D Mental Health Economics : The costs and benefits of psychiatric care. Springer International Publisher, Cham, 2017.

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    Prof Dra Denise Razzouk

    Psiquiatra e professora universitária, com pós-doutorado em Economia da Saúde Mental. 

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