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Economia e Saúde Mental em Pauta​

Custos invisíveis em Saúde Mental:O impacto no desempenho universitário

25/6/2018

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Tenho tentado explicitar o que é Economia da Saúde neste blog e nas palestras e cursos que ministro aos mais diversos públicos. Como já esclarecido em posts anteriores, a Economia da Saúde está ligada à tomada de decisões (custo de oportunidade), à escolha entre alternativas, visando alcançar o melhor estado de saúde ou de bem estar. Porém, sempre que menciono o termo "custos", observo que a maioria das pessoas associa esta palavra, exclusivamente, aos recursos financeiros ou à administração dos mesmos. O conceito de custos ligado, exclusivamente, ao uso de recursos para produção, manutenção e oferta de um serviço é mais restrito do que o conceito utilizado em Economia da Saúde. 

Diferentemente da visão administrativa e contábil, a Economia da Saúde considera, também, os custos não financeiros e os custos que recaem em outros setores da sociedade.Destes, destaco os custos invisíveis. 

O que são custos invisíveis?

Em geral, custos invisíveis são aqueles que recaem nos pacientes, familiares ou em outros setores da sociedade e, na maioria das vezes, não são considerados nas tomadas de decisão em saúde. As decisões para a inclusão de uma tecnologia ou tratamento no sistema de saúde ou para a alocação de recursos são baseadas em resultados de estudos que usam uma perspectiva mais restrita, como a do provedor do serviço de saúde, na qual os custos invisíveis não são levados em conta.

O texto de hoje aborda os custos invisíveis decorrentes de um transtorno mental que têm impactos negativos no desempenho, tanto de estudantes quanto de profissionais e pesquisadores na Universidade. 

Graduação e pós-graduação

A maior parte dos alunos que ingressa na Universidade está no início da idade adulta. É nesta fase que muitos transtornos mentais se iniciam e que ocorre um substancial abuso de substâncias psicoativas (álcool, drogas e medicamentos). Aliado ao estresse e competitividade do ambiente escolar,  ao aumento de responsabilidades que o curso profissionalizante exige, o bullying, a agressividade e atitudes discriminatórias entre os colegas, as dificuldades de relacionamento, os problemas relacionados à auto-imagem, a escassez de tempo para o sono e atividades de lazer e estilo de vida pouco saudável são fatores somatórios contribuem para a maior vulnerabilidade de adoecimento mental (Brown, 2016). Os custos invisíveis, neste cenário, são devidos ao sofrimento individual e familiar, ao mau desempenho escolar, ao suicídio e acidentes, à pior qualificação profissional e ao isolamento social (Pinheiro et al., 2017). Há alunos que desenvolvem quadros depressivos e não procuram tratamento, seja por ignorância ao tema, seja por resistência a aceitar o tratamento. O primeiro impacto observável é o mau desempenho escolar, com repetência de vários semestres do curso ou o trancamento da matrícula. Alguns desistem do curso, outros voltam anos depois e alguns cometem suicídio.

Os alunos de pós-graduação, também, têm apresentado altos índices de depressão, ansiedade e outros problemas de saúde mental. O jornal britânico The Guardian, publicou, recentemente, uma matéria que destacou o adoecimento mental de um terço dos estudantes de PhD e de como isto tem afetado indiretamente a produção científica e à formação de pesquisadores. Na mesma direção, a Harvard Medical School, recentemente, reconheceu que a saúde mentall deva ser uma prioridade no cenário global. 

Nos casos de pesquisadores e professores, a síndrome de burnout é outra condição silenciosa que prejudica o desempenho profissional, cognitivo e os  relacionamentos no meio acadêmico. O adoecimento mental é lento, silencioso. Os custos invisíveis, portanto, aumentam, progressivamente, até que que os custos diretos de saúde sejam perceptíveis. É crescente o reconhecimento destes custos, porém, tanto aqueles que realizam os estudos econômicos quanto os atores tomadores de decisão em políticas públicas e de implementação de novas tecnologias precisam perceber a pertinência destes custos invisíveis (Trautman et al, 2016).

Quando se avaliam os custos de um tratamento, muitas vezes estes custos "invisíveis" não são computados. Porém, estes custos precisam ser computados!

A maioria dos guidelines em Economia da Saúde preconiza que tanto os benefícios futuros quanto os custos futuros sejam considerados nas avaliações econômicas. Os benefícios, principalmente, na saúde mental, podem demorar semanas, meses ou anos para serem observados. Por isso, muitas avaliações de novos tratamentos ou intervenções que verifiquem seus efeitos em um espaço curto de tempo concluem que tais tratamentos não são custos-efetivos. Por outro lado, os custos relacionados ao suicídio, ao empobrecimento, à violência, ao abandono escolar devidos aos transtornos mentais não costumam ser computados nestas avaliações. 

Vários pesquisadores europeus têm se debruçado em estudar estes custos e desenvolver métodos mais apurados para a mensuração de custos inter-setoriais. Um dos projetos mais arrojados é o PECUNIA, financiado pela Comissão Européia, que desenvolve métodos para estimar os custos de multi-setores, além da saúde. São estes custos que, muitas vezes, impactam negativamente outros setores além do setor da saúde. Frequentemente, os mais afetados são os setores de educação, justiça, ação social e previdência e do trabalho. Porém, ações para prevenir tais custos devem ser pautadas em ações conjuntas entre a Saúde e estes setores.

Não adianta aumentar o arsenal de tratamentos e intervenções se não houver impacto na vida das pessoas. Por outro lado, ignorar as necessidades invisíveis de uma melhor saúde mental, também, pode incorrer em um maior custo para o setor da saúde e para a sociedade em geral. O investimento em saúde mental diminui estes custos invisíveis e possibilita uma vida melhor para o indivíduo e seus familiares.  A ONG Mental Health America mostou bem a evolução dos custos invisíveis com um exemplo de investimento precoce em problemas mentais na adolescência, custando 81 dólares ao ano per capita. À medida que a criança cresce outros custos, 400 x maiores (saúde e justiça), poderiam ser evitados com intervenções precoces. 

O primeiro passo em relação aos custos invisíveis é enxergá-los!!!!

Leitura complementar

Brown, P. The invisible problem?Improving students mental health. Higher Education Policy Institute.HEPPI Report 88.Oxford, 2016.

Mayor of London. London Mental Health: The invisible costs of mental ill health. London, 2014.

​Pinheiro, M., Ivandic,I., Razzouk, D. The economic impact of mental disorders and mental health problems in the workplace. In: Razzouk, D Mental Health Economics: The costs and benefits of psychiatric care. Springer International Publishing, 2017.

Trautman,S. The economic costs of mental disorders.EMBO Reports, 2016.

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    Prof Dra Denise Razzouk

    Psiquiatra e professora universitária, com pós-doutorado em Economia da Saúde Mental. 

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